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O mundo é muito mais complexo do que podemos imaginar, por isso deveríamos observar cada momento que nem um neném.

 

Budo

Budo é a denominação do caminho das artes marciais em japonês; é a junção das palavras DO (caminho) e Bojutsu ou Bujutsu (técnicas de luta).

Somente no séc 17, com a integração do Zen é que Bojutsu se tornou também Budo (o caminho do guerreiro).

Foi com a profundeza da filosofia Zen que o praticante de Bujutsu entendeu que somente destruir e conquistar adversários não é a solução para a sublimação de seus instintos e natureza inferior, e desta forma as técnicas de Bojutsu passaram por uma transformação, sendo também usadas para se próprio conquistar (Shin-budo).

Este princípio iremos encontrar em todas as principais religiões. No Hinduismo e no Yoga como no Budismo, é a parte principal dos seus ensinamentos. No islã temos a grande guerra santa, que é lutada para superar a sua própria natureza baixa (em contrário da pequena guerra santa que é a luta contra os inimigos da religião muçulmana). No cristianismo é a derrota do satanás e a capacidade de não se deixar persuadir pelas tentações satânicas, no shamanismo é a união mística através do transe, e no misticismo é a incorporação do bem.

A Bíblia nos ensina que devemos agir conforme as leis, os ensinamentos e instruções de Deus e seu filho Jesus Cristo. A mesma coisa Lao Tse nos ensina ao dizer que devemos agir conforme o TAO. E de novo iremos encontrar os mesmos ensinamentos da Bhagavad Gita, um dos livros sagrados Hindu.

O problema é que as religiões e seus devotos em vez de seguirem o que lhes foi passado e trilhar o caminho (Do) ficam discutindo sobre as interpretações das leis e seus significados (brigam por causa de palavras). Cada um quer ter a absoluta razão e ser o único e absoluto certo.

A mesma coisa acontece nos caminhos das artes marciais. Escolas brigam entre si para determinar quem é a melhor, brigam por causa da interpretação de movimentos de katas, de posições políticas nas federações e confederações, e esquecem que somente o exercício corporal (Shosa) e o treino das técnicas (Waza) sem o treinamento espiritual a nenhum lugar levam.

É a união das técnicas (Waza), da energia e força vital (Ki) e do espírito (Shin), que juntos e em harmonia, representam o Budo (o caminho do guerreiro). O treinamento destes três elementos molda o aluno (Deshi) lhe possibilitando superar o seu ego, vaidade e auto glorificação.

Budo é o caminho do Wu Wei, o nada, ser o nada. Somente se esquecendo e não sendo é que podemos perder o medo de perder algo, somos capazes de nos desfazer do apego.

A arte de viver é agir em vez de reagir. Quem age determina o que vai acontecer. Mas para podermos agir temos que aprender a nos desapegar de nós mesmos, do medo, da vontade de querer conquistar, de querer ser algo. Só sendo nada é que o agressor terá nada para atacar.

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48. Agir sem movimentar o mundo

Quem procura conhecimento,

com cada dia mais tem.

Quem procura o Tao,

com cada dia menos tem.

E quanto mais se perde,

mais se age não agindo,

e assim, tudo se pode fazer.

Para conquistar o mundo,

age-se não agindo.

Pois, quem age

não conquistará o mundo.

 

Comentário:

O não agir, significa não ter apego á ação. No karate kempo você treina a não ação. Quando você se concentra no adversário, na ação do adversário, por exemplo, no soco, na mão do adversário, você se apega a tal movimento não mais podendo agir espontaneamente. Assim você dá demais importância ao adversário, dando energia que ele irá usar contra você.

É o mesmo quando você está meditando. Quando um pensamento surge e você der atenção a tal pensamento, ele vai crescer e acabar ficando importante e perturbar a sua meditação. Se você tentar concentrar em não pensar no pensamento você irá acabar pensando ainda mais nele. Agora se você simplesmente esquecer ele, ele deixará de existir.

Simplesmente faça o que você tem que fazer, caminhe o caminho que você tem que caminhar. Nada mais é o Tao.

Você se lembra daquele exercício do ponto preto?

Pois bem, agora você se concentra de novo no ponto preto, só que desta vez você não vê um ponto preto e sim, um buraco preto. E se um pensamento aparecer, você o ignora, não lhe dando importância.

Para você não é importante o que o outro faz e sim o que você faz. O que o outro faz é para ele importante, mas não para você.