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O mundo é muito mais complexo do que podemos imaginar, por isso deveríamos observar cada momento que nem um neném.

 

Deshi

O Aluno

Aluno não é igual a aluno. Nem todo que treina num centro é aluno.

Na idade feudal só treinava quem era descendente de samurai, feudal ou da família real.

Na Europa era a mesma coisa. Os grandes mestres não aceitavam qualquer um como aluno. Na China existem centenas de histórias onde o aluno tinha que esperar dias até meses até ser aceito. E mesmo depois de ser aceito, o aluno treinava anos até ser poder ser reconhecido pelo mestre como aluno (DESHI).

Hoje em dia, os alunos pagam uma mensalidade e pensam que por ai terminou sua responsabilidade, e começam a exigir seus direitos de aluno. O aluno atual pensa que com a mensalidade ele cobre toda a responsabilidade que ele tem perante o sistema (RYU – escola), o Sensei (Mestre) e o Budo. Tais alunos nunca irão passar da fase inicial, do primeiro grau. Eles(as) podem até receber a faixa preta mas nunca serão representantes oficiais do RYU e de seu mestre.

Artes marciais não se restringe a aprender meramente técnicas de bater. Para quem que aprender a bater e a brigar, este não precisa ir a um DOJO e procurar um SENSEI para aprender BOJUTSU e praticar BUDO.

Por isso se diz que existem dois tipos de alunos:

1. Os que praticam artes marciais como esporte. O praticam como forma de lazer, passa tempo, exercícios físicos, aprender a bater, como uma forma de educação física.

2. O que praticam artes marciais como caminho espiritual, como filosofia de vida.

Cada RYU tem sua própria tradição, e conseqüentemente seus ensinamentos serão diferentes, mas para poderem ser um RYU eles sempre estarão vinculados a uma ética (que muitas vezes faz parte de um sistema religioso). E a base de todos os sistemas religiosos é o respeito pela vida, o objetivo de sublimar sua natureza inferior e purificar o espírito (reconhecer o divino em todas as criações da natureza).

Este sistema religioso é diferente conforme o país, continente ou região onde a arte é praticada. Na idade média, na Europa, os guerreiros eram cristãos e seus mais árduos lutadores eram monges. Infelizmente muitos feudais participaram das encruzilhadas, não para proteger a crença e os valores éticos e sim, para enriquecerem.

Na China temos os famosos monges Shaolim que sempre mantiveram os ideais budistas em mente. Eles aprenderam a lutar para proteger os templos, sua crença e o povo.

No Japão foram os Yamabushi (monges) que protegiam os templos e os shoguns e imperadores que eles achava que melhor representavam seus ideais e ética.

Hoje em dia ninguém mais tem que virar monge para poder se dedicar às artes marciais. Mas mesmo assim sempre devemos manter em mente que para podermos realmente treinar artes marciais temos não só de treinar o corpo e a mente como também o espírito.

Para um aluno virar DESHI, ele(a) tem que fazer sacrifícios. Tem que sacrificar o seu ego, vaidade e apego.Tem que amostrar dedicação e estar pronto a caminhar o caminho do BUDO, fazer dele sua filosofia de vida. O DESHI tem que determinar para si próprio o que é mais importante para ele(a): o treino ou as futilidades da vida? E tem que determinar suas prioridades.

Lógico, que o Budo não é o caminho feito para todos. Os seres humanos são diferentes, e assim cada um trilha o seu caminho, e cada caminho é bom, não existe os melhores ou piores. A escolha é sempre justificada e livre e ninguém tem o direito de dizer: „O meu caminho é melhor do que o da fulana".

Mas para quem quer trilhar o caminho do BUDO e viram um DESHI, este terá que estar consciente de seus deveres e determinar suas prioridades.

Infelizmente, hoje em dia, como muitas coisas, palavras que nem DESHI (aluno), SENSEI (mestre), BUDO, DO, são usadas muito facilmente e superficialmente. São terminologias bonitas e as pessoas a usam para impressionar. Todo professor é denominado de SENSEI, todo faixa preta é denominado de Mestre e todo mais altamente graduado de SOKE. Alunos que abrem academias se denominam de SHIHAN e alunos de academias se consideram um(a) DESHI.

O aluno só se torna DESHI depois de muitos anos de treino com o mesmo SENSEI que se torna SENSEI só depois de amostrar uma certa grandeza interna. Entre o DESHI e o SENSEI é gerado uma confiança mutua (SHITEI) que possibilita ao aluno aprender e ao mestre ensinar o DO (caminho) e o BUDO.

Do Tao Te King:

Quem sabe o que não sabe,

é grande.

Quem pretende saber o que não sabe,

é doente na cabeça.

Mas quem conhece tal doença (sofrimento) como tal,

não é doente mental.